sábado, 1 de janeiro de 2011

Relatórios finais Parte 2

O segundo relatório pessoal de abandono da peça, escrito uma semana após o abandono da peça:

''Depois de parar de usar a peça, tomei consciência do seu peso físico e do quão quente ela era. Hoje percebo o quanto ando menos cansado ao final do dia e vejo o quanto ela me desgastava fisicamente. Seus botões de metal, os tecidos pesados e a dupla face da camisa contribuíam para que a peça fosse um tanto quanto desconfortável  fisicamente.

Creio que eu possa ter, em partes, confundido esse desgaste físico com o desgaste emocional. E o fato de eu estar imerso em uma rotina de trabalho muito pesada, contribuiu para que eu me desgastasse mais, e de modo mais pesado, com a peça e seu uso.

Hoje me sinto leve (fisicamente falando, sem metáforas emocionais) e consigo passar a maior parte do dia sem me sentir cansado nem esgotado. O calor me incomoda menos e meu corpo responde melhor ao dia a dia. Engraçado que só fui perceber o quanto o peso físico da peça me incomodava ao abandona-la. E hoje, ao me livrar desse peso, sei que o fator físico possa ter tido uma contribuição primordial na minha decisão de abandono.

O fato de eu estar inserido em uma rotina pesada de trabalho, submetido a uma carga grande de stress emocional associada ao desconforto físico causado pela roupa fez com que eu desistisse da roupa.

No mais lamento não ter ido a nenhuma festa de gala e a nenhuma viagem durante o uso da peça. E agradeço pela oportunidade de me conhecer e me analisar com tamanha profundidade. 

Hoje tenho claros muitos fatores da minha personalidade que antes pareciam turvos e confusos. Sinto-me mais seguro e mais senhor de meus domínios. Esses últimos meses passaram para mim como anos, de modo que me sinto velho (muito mais do que velho do que minha idade) e muito diferente do jovem quase adolescente pseudo-revolucionário que era quando comecei. E, por isso, não me sinto à vontade com minhas roupas antigas, pois, sinto que elas não condizem com minha idade interna. E mentem quando vendem a imagem de que sou uma pessoa despojada e livre, simplesmente contestatória, ao passo que não o sou mais.

Hoje me baseio ainda na contestação (principalmente, no momento, ao mercado de moda e seu funcionamento) mas não do mesmo modo que antes. E creio que devo encontrar um modo de expressar isso pelo vestuário.

Ouço muito as pessoas dizerem que dou muita importância ao aspecto visual. Isso é verdade. Mas o que ''casa de ferreiro, espeto de pau'' uma ova! Trabalho, estudo e pratico visualidade o tempo todo. Todas minhas referências são extremamente visuais, tudo para mim se resume a formas, cores, traços, composições... não consigo ignorar a importância e o peso disso.

Para mim, não estou a dar importância demais para a visualidade. Estou apenas vivendo o que é importante para mim: existir, lutar e viver por uma moda menos ordinária. ''


No mais pretendo dizer que comecei essa experiência cortando meu rosto na foto e terminei ela encarando a câmera. É apenas um detalhe, mas que, para mim, tem todo um significado.

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